Neuróticos, alegrem-se! O futuro é nosso.
Dentre os muitos instintos, conhecidos ou não, há um instinto para a evolução da espécie. O seu “habitat” é o inconsciente, e como desejo do inconsciente sabemos que sua realização é irresistível.
Para o Dr.C.G.Jung o objetivo final do inconsciente é a realização do si-mesmo. Esse desejo de realização está presente ha história humana desde os primórdios. Ela está representada na jornada do herói, o supra-homem da mitologia, das religiões e das artes. Com a vitória do herói, acontece a transformação de um humano comum em um ser que adquiri capacidades mentais-físicas-espirituais acima de qualquer humano.
Na minha opinião, o instinto de realização do si-mesmo é o instinto que propõe que um espécime mais evoluído surja. Nos últimos 100 anos evoluímos mais tecnologicamente do em toda nossa história anterior. Não seria a evolução tecnológica uma forma, não total mas parcial, de realização do desejo-instinto de evolução? (vide postagem – Nosso maior desejo – parte I).
Estaríamos preparando o surgimento de uma nova espécie em um futuro distante? Um ser com capacidade mental maior, onde a percepção de si e do meio fosse mais aguçada. No reino dos animais que vivem em bando, o líder alfa ou em alguns casos, o casal alfa apresentam não apenas força física, mas também maior acuidade mental, montando estratégias para caça e para manter o bando unido. Seria a energia psíquica dos líderes, mais forte?
Com o surgimento da civilização, a disputa pelo poder começou a ser realizada por um grupo minoritário, alguns hoje chamam de “elite”. A esmagadora maioria foi obrigada à servidão, acreditando que os mais capazes para a disputa da liderança nasceriam dessa “elite”. Porém, sabemos pela história que ter pai rei não garante competência para governar.
Devemos também considerar o surgimento da medicina. Começamos a interferir fortemente na seleção natural. Hoje os menos aptos à sobrevivência natural estão bem vivos, incluindo esta que escreve. Quem nasceu de uma cesariana ou fórceps, tomou antibióticos em algum momento da vida, teria tido uma chance considerável de ter sucumbido em um modo de vida selvagem.
Levando em conta, o surgimento da civilização e da medicina podemos supor que muitos indivíduos, com aptidões de alfa nunca chegaram a disputar a colocação superior, à qual foram destinados geneticamente. Foram doutrinados a vestir uma máscara que satisfizesse sua comunidade. Uma máscara que os tornasse similar aos demais, pois os diferentes geram desconforto e risco à comunidade. O instinto de adaptação ao meio nos leva a criar máscaras para que a estabilidade social seja mantida.
Pergunto: Onde esses mascarados empregaram a farta energia psíquica, da qual foram dotados? A resposta: Em uma neurose.
Podemos observar o crescimento das neuroses em nossos animais domésticos, por exemplo, os cães. Seria apenas por estarem confinados a pequenos espaços? Acredito que não. Podemos observar que os mais facilmente adaptados tem um comportamento não tão atento e inteligente quanto os cães neuróticos. Talvez os líderes de bando nasçam com uma energia psíquica maior, que quando não empregada para o que ela foi programada, transforma-se em uma neurose como: lamber as patas, latir sem parar, agressividade, etc.
Voltemos aos humanos. Com a grande diminuição da mortalidade natural no nascimento e juventude e com a grande dificuldade de mobilidade social, muitos líderes, não empregam sua energia psíquica de maneira adequada. Reprimindo-a e enviando-a novamente ao inconsciente. Essa energia reprimida, pulsionará sua saída para o consciente. A saída não poderá ser feita no mesmo estado em que foi reprimida, portanto ela será “travestida” em uma forma diferente para voltar ao consciente, pois apenas assim conseguirá “driblar” as barreiras da repressão. A energia “travestida” poderá apresentar-se como uma obsessão, tic nervoso, ansiedade ou qualquer outra forma de neurose. E como a consciência não reconhece a sua forma primeira, mas apenas a sua fantasia, a energia não poderá ser direcionada para a tentativa de realização do desejo. Sendo assim, a neurose permanecerá por muito tempo, podendo permanecer até o final da vida do indivíduo ou transformar-se em outra neurose. Depois da neurose instalada apenas o processo investigativo da terapia poderá reverter o processo, direcionando essa energia para uma função adequada.
Um dia, o homem evoluirá para além do homem. Quando? Impossível determinar. Quanto tempo levou para chegarmos ao homem moderno, o Homo sapiens sapiens, uma subespécie do Homem sapiens (homem sábio)? A teoria mais aceita acredita que o homem moderno evoluiu do Homo sapiens arcaico, há cerca de 120.000 anos. Quem sabe, possa ser mais rápido, pois nos últimos 100 anos evoluímos mais do que em toda nossa história anterior. Talvez a evolução cresça exponencialmente. O que seremos então? Homo 3 vezes sapiens? Como Hermes Trismegisto, o 3 vezes grande, outro supra-homem da mitologia.
O desejo existe e o inconsciente continuará a nos direcionar, queiramos ou não.
Deixo, para sua reflexão, dois trechos de livros importantes:
“Há camadas inteiras da população que apesar de sua notória inconsciência não são atingidos pela neurose. Os que sofrem tal destino, a minoria, representam na realidade um tipo humano “superior”, que por um motivo qualquer permaneceu muito tempo num estádio primitivo. Com o correr do tempo, sua natureza não resistiu a essa apatia antinatural. A estreiteza de sua esfera consciente e a limitação de sua vida e existência lhe pouparam a energia; pouco a pouco esta se acumulou no inconsciente, explodindo afinal sob a forma de uma neurose mais ou menos aguda."
O eu e o inconsciente – 7/2 dois escritos sobre Psicologia Analítica – obra completa – Carl Gustav Jung – pág. 74
"... é um fato existirem homens decididos a não se contentarem com a realidade. Aspiram o curso diverso para as coisas; negam-se a repetir os gestos que o costume, a tradição, e, em resumo, os instintos biológicos querem impor-lhes. A homens assim chamados heróis. Porque ser herói consiste em alguém ser si mesmo. Se resistimos a que a herança, a que o circunstante nos imponham ações determinadas, é porque almejamos assentar em nós mesmos, e só em nós, a origem dos nossos atos. Quando o herói quer algo não são os antepassados nele ou os usos presentes que querem, mas ele mesmo. Este querer em si mesmo é o heroísmo."
Meditações do Quixote - Ortega y Gasset - pág. 156
Por Cintia B. Silva
Post relacionado: Nosso maior desejo - Parte I
O eu e o inconsciente – 7/2 dois escritos sobre Psicologia Analítica – obra completa – Carl Gustav Jung – pág. 74
"... é um fato existirem homens decididos a não se contentarem com a realidade. Aspiram o curso diverso para as coisas; negam-se a repetir os gestos que o costume, a tradição, e, em resumo, os instintos biológicos querem impor-lhes. A homens assim chamados heróis. Porque ser herói consiste em alguém ser si mesmo. Se resistimos a que a herança, a que o circunstante nos imponham ações determinadas, é porque almejamos assentar em nós mesmos, e só em nós, a origem dos nossos atos. Quando o herói quer algo não são os antepassados nele ou os usos presentes que querem, mas ele mesmo. Este querer em si mesmo é o heroísmo."
Meditações do Quixote - Ortega y Gasset - pág. 156
Por Cintia B. Silva
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