Existe um desejo no espírito humano. Um chamado à evolução da espécie. Esse desejo está expresso nas mitologias, nas religiões, na literatura, na arte, na cultura popular e na imagem que o homem faz de si mesmo. Ainda que essa auto-imagem seja falsa. Falsa não! É uma vitória que ainda não foi conquistada.
A saga do herói (vide a teoria do Monomito de Joseph Campbell. - vale a pena), está presente na história humana desde a primeira civilização, a Suméria - 4.000 ac, com a Epopéia de Gilgamesh - a obra mais antiga já catalogada. Com certeza essa saga derivou de narrativas muito mais antigas de povos primitivos, mostrando que a semente para a evolução foi plantada nos primórdios. Talvez a semente tenha surgido quando nos tornamos animais diferenciados. Ou nos tornamos diferenciados porque a semente já estava germinando?
A jornada do herói fala das etapas a serem vencidas para que o homem se torne um ser completo. União corpo-mente-espírito. Um supra-homem que possua poderes, entendimento e sabedoria que vão muito além do humano. Alguns vitoriosos na mitologia são Hércules e Rei Arthur. Nas religiões: Buda, Cristo, Maomé, Padmasambhava. Na cultura popular ou mitologia contemporânea: Jake Sully (Avatar), Neo (Matrix) ou Luke Skywalker (Star Wars). Uma longa lista segue em todas as áreas que incluam o homem como tema central.
Um exemplo banal e causador de muita angustia, a busca pelo corpo perfeito. A estética física apresentada na mídia ou em expressões populares de arte, nos remetem a homens e mulheres com corpos não possíveis. Alguns dos nossos melhores exemplares, mesmo já estando acima da média, passam por maquiagem, o melhor ângulo, a luz ideal e no final pelo Photoshop. Na minha opinião, essa busca pela estética ideal representa um desejo de ir além do possível no homem.
Gostaria de salientar, que a realização do supra-homem exclusivamente no âmbito material é a característica principal da sociedade contemporânea. Esse extremo da realização do desejo é prejudicial. Como seria prejudicial a conquista do além-homem apenas através do imaterial. Para a evolução completa do ser é necessário haver o delicado balanço entre as polaridades.
Hoje, voamos nos céus, submergimos nos oceanos, criamos olhos mecânicos para sondar o espaço. Fazemos coisas irreais no passado e corriqueiras no presente. Fazemos através de máquinas. Máquinas que são extensões de nossos corpos. E faremos mais, através de sentidos e capacidades da nossa mente. Capacidades celebradas nos mitos e religiões, impossíveis no presente e possibilidade no futuro, pois o desejo existe.
Mas existe um grande empecilho para o final da jornada, ... a nossa auto-imagem. Caminhamos como se já não fossemos animais. Fornecemos desculpas racionais para motivações puramente instintivas.
Os instintos habitam um oceano, repleto de mistérios, que deveria ser navegado. Falo do inconsciente, que também pode ser representado por uma floresta profunda e desconhecida. O submundo do herói antigo. O espaço sideral do herói atual. Uma terra onde tudo pode acontecer. Essa terra é mental e não física.
Como a maioria de nós desconhece ou nega a existência do inconsciente (se nega é porque tem medo), essa terra desconhecida deixa de apresentar suas fadas, suas maravilhas. Talvez, a primeira vista, uma fada possa apresentar-se como o mais terrível monstro ou demônio, mas sob um segundo olhar...
Um mito salutar, Os doze trabalhos de Hércules. O primeiro trabalho é matar o leão de Neméia. Se fosse fracassado a jornada estaria perdida. Estando a tarefa cumprida o herói deverá usar a resistente pele do animal como uma armadura impenetrável e continuar a jornada.
Podemos incorporar os instintos ao consciente para decidir se devemos segui-los ou não, ao invés de sermos levados ou destruídos por eles. Domar o lado animal, integrando sua natureza à consciência, é o inicio. Se continuarmos a ignorá-lo, temê-lo, demonizá-lo, enfim mantê-lo afastado, estaremos deixando que ele domine. Ele age no silêncio e é nele que a força reside.
Por Cintia B. Silva
Por Cintia B. Silva
Um comentário:
Nosso Maior Desejo é um texto muito profundo. Nos faz pensar que na verdade navegamos de forma inconsciente na viagem da evolução da espécie. É um alerta valioso.
Rogério
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